domingo, 27 de novembro de 2011

Entre todas as notas


Me escapa ao tato.
Longe de todo o meu querer.
Sei que és:
Forte.
Sereno.
Suave.
Cortês, às vezes.
Pouco educado, em tantas outras.
Estranho e engraçado.
São tantos de ti.
Não posso nenhum.
Nem o que é bom.
Nem o ruim.
Nunca amei o que não posso.
Sempre pude.
Sinto dor.
E algo de amor.
Leão ou cachorro?
Tanto faz.
O que quero transcende o ser.
Desejo o que está além.
Desejo a alma.
Vinho, barraca, beijo e mar em algum lugar.
Você que me faz feliz.
“é só pensar em você que muda o dia”.
Lacuna
Cintia Chagas

"Uma vontade assim.
Quase simples.
... Dizer ao mundo.
Que o sentir persiste.
Que o desejo insiste.
Que o querer é fato.
Que o impossível existe.
Está aí! Sempre a nos mostrar.
Nem sempre se pode.
Quase nunca se pode.
Ou algo assim
Saber viver.
Nem sempre sabemos.
Quase nunca entendemos.
A gente tenta.
O sentir sustenta.
Mesmo que não seja.
Já é."

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sinto Dan


Sinto-me oca.
Uma mistura estranha de dor e nada.
Sentimentos perdidos
Detalhes estranhos
Tenho lampejos de memórias loucas
Alguns pedaços de mim perdidos entre pessoas
Tudo em busca do nada
Meu ego morto
Dilacerado
Apodrecido perto do sol
Vestes pretas com o cheiro de escuro
Cada músculo a me lembrar o quão somos nada sem um corpo são.
Cada imagem atormentando o sossego d’alma
Não quero mais ouvir falar em ti.
Quero você longe do meu querer imenso
Não merece tudo o que sinto
Não terá carinhos meus
Quero mesmo poder sumir
Encontrar uma paz qualquer em um colo doce
Desejo tanto
Poder olhar seus olhos
Beijar sua boca dormida embebida em álcool
De onde vem esse algo que a gente não pode entender
Fluxos
Aquilo que me toma inteira e me acomete o ser
Me emburrece sem dó
Me tira a nobreza e deixa em mim esse não ser tão latente
Não te quero mais ocupando os espaços meus
Deixa correr o tempo
Uma flor de amarelo intenso há de nascer sobre o mal que deixaste em mim.

sábado, 10 de setembro de 2011

Visita

Descendo as escadas.
Tinha uma pressa esquisita.
Porta aberta. Ele e ela.
Não caibo no espaço que se instala.
E o tempo vai desanuviando o desejo meu.

Clara



Entendia pouco das coisas do coração.
Meio intransigente para explicações alheias.
Mas vivia tudo ao mesmo tempo continuamente.
Gostava de comprar penduricários e sempre se enveredava pelas ruelas da Bahia em busca de novas coisinhas para enfeitar sua casa ou seu corpo.
Tinha pernas bem torneadas e um pescoço esguio demais.
Prometia a todos o seu carinho adocicado e distribuía um sorriso escancarado e desavergonhado.
Era mulher de muitos homens.
Vermelho. Sempre vermelho nos lábios e um rosado leve nas bochechas.
Cabelos. Quase sempre soltos. Algumas vezes levemente preso por pequenos grampos cor de ouro, desses que encontramos em pequenas vendas do subúrbio, vendidos em pequenas caixinhas.
Sandálias. Altas e finas. Pequenas tiras amarradas nos tornozelos.
Ostentava seios volumosos que estavam sempre a mostra nos decotes das blusas de tecidos leves e sempre muito coloridos.
Clara.
Era esse seu nome. Clara.
Forte. Iluminado e até doce.
Ela gostava da sonoridade de seu nome dito baixinho ao pé do ouvido nas noites quentes da Bahia de Todos os Santos.
Ela um dia amara alguém.
Amara vertiginosamente um pescador da vila onde vivia sua vozinha materna.
Ela amara quando era ainda muito jovem.
Mas amores nem sempre são retribuídos.
O dela não fora e Clara sentiu dor. Sentiu pavor. Morreu um pouco a cada dia. Não quis mais amor.
Escureceu sua alma. Abriu seu corpo. Todas as partes. Para todos os homens. Seu corpo entregue aos prazeres mundanos. Suas entranhas entregues às bebidas torpes. Suas noites dormidas nos lugares todos.
Mas nunca se esqueceu de ser Clara.
Pois quase sempre quando dormimos, também acordamos.
E quando o dia é aceso, o clarear da alma é certo.
Não há aquele que durma turvo e acorde turvo.
Temos momentos de lucidez ao clarear do dia.
Clara ao amanhecer era luz intensa. Era paz divina. Era céu azul. Era um mundo de cor vagando na cabeleira solta. E girava o corpo, a mente, as dores, as flores e os amores.
Passarinho no alto gritando a beleza de poder viver.
E dentro de tudo que cabe dentro de cada um, em Clara o mundo transbordava. Vazava sentidos e sentimentos. Vazava o etílico de uma vida louca. Vazava uma Clara menina correndo pela beira da praia na beira da casa da vozinha na beira do olhar do pescador amor. Vazava a primeira entrega do seu corpo jovem demais para ser de outro que não fosse ela mesma. Vazava Clara por todos os poros e pólos.
Luzes soltas na manhã do domingo claro daquela Bahia....
Era o simples amanhecer de Clara por ali.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Céu de Brasília


Um dia ainda vou existir.
Deixar que vejam o que nao querem ver.
Quebrar estigmas e karmas.
Ganhar dinheiro e distribuir.
Mostrar ao mundo a possibilidade de ser feliz olhando um céu de outubro.

Merecimento






 Esse é de junho de 2010, mas ainda me parece real, intenso e atual.

Eu quando gosto amo
E na maioria das vezes gosto.
Quando implico detesto.
Mas nem sempre implico.
Quando começo algo, não termino.
E nem sempre termino, nem sempre começo.
Quando estou no ócio, escrevo.
Nem sempre escrevo.
Quando me dói o braço, eu estico.
Me estico quase todas as horas.
Mas se puder eu paro.
Olho pro céu
Agradeço pela vida.
Suplico por proteção aos meus filhos
Por dias mais brandos no mundo
Pra que todo homem viva com dignidade.
Pra que toda luta seja recompensada com a paz de espírito.
E pra que o lugar onde estejamos,
Seja sempre aquele onde mereçamos estar.

Sangrando





Pela impaciência dos atos havia ali um alguém repleto de pensamentos inconstantes.
Era um desespero morno, que crescia em dor e rancor.
Ninguém entende mesmo onde começa a dor, onde tem início aquele mal estar no estômago de uma saudade intensa.
Ela o perdera assim que o tivera.
As palavras tão duras quanto lisas.
Povoando um mundo verbal meio louco.
Disse e disse e disse mais
Mais do que devia, mas do que podia.
Enegreceu um dia claro com suas convicções ridículas.
Foi-se o amor.
Mas se vier eu espero
Entendo tudo o que se passou.
Mas passou
E pesou.
Pesou a vontade de um beijo mais
De um calor no corpo
Um afago na alma.
Pesou a falta do sorriso de canto
Da música da vitrola do bar daquele dia.
Pela insensatez dos versos havia ali um alguém em estado de dor.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Só hoje

Estou hoje sem destino. Procurando atentamente por trajetos para seguir. Vou levando meu corpo leve pelos caminhos e estradas rumo ao não sei onde. Começo a me entender mais e querer cada vez mais me afastar de tudo o que não me parece doce e puro. Não é fácil ser feliz. Mas a gente tenta.

Entendendo

Ou não. E isso se iguala ao simples correr do tempo. Como se estar aqui agora, ou não, fosse como se sentar no topo da montanha ou estar à beira do Rio Sao Francisco, na cidade ribeirinha de Januária ou Manga e entender que somos quase sempre como a água que desce. Levados.
"Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem?
Ou será que é tarde demais?"   Lô Borges
escreversempontossemmaiúsculasnemminúsculassemcrasessemespaçossemsignossemsignificadoscomverdadescomsentidoseisentãoaverdadeliteral
take another little piece of my heart baby
Desnuda

Sinto-me completamente desnuda.
Alma depenada.
Verdades todas à mostra.
...Cadáver dissecado sobre a mesa fria.
Atos expostos.
...Olhares alheios conhecendo o algo que tento esconder.

Cintia Chagas

domingo, 29 de maio de 2011

Reinaugurando pela terceira vez

Confesso que essa é a minha terceira tentativa de manter esse blog. Já mudei seu nom, sua cara, seu jeito e meu modo de pensar. Não sou muito adepta às coisas que exigem muita disciplina, e sei que para manter um blog e seus leitores, é nescessário estar sempre atualizando-o. Como me conheço bem, vou tentar escrever pelo menos uma vez por semana. A partir de agora quero deixar registrado aqui as laranjas e também os bagaços.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Inaugurando o blog.

Oi gente,

Criei este blog com o intuito de divulgar alguns textos meus, trocar idéias sobre arte e cultura. Será sempre um prazer dividir com aqueles que possuem o mesmo interesse, palavras, posicionamentos e desejos.

Pra começar um texto meu que gosto muito.

Crônica do lugar
Engraçada essa vida de gente de todos os cantos! Até antes de minha chegada a Brasília nunca havia me preocupado com a origem das pessoas. Mas por aqui isso me parece tão comum. Em qualquer canto que eu vá, desde a padaria ao consultório médico, todos me perguntam de onde venho. Eu nem tenho muito como negar essa minha origem bonita de ser mineira. Tem um “UAI” que está impregnado em nossa linguagem e em nossa alma. A pergunta que me fazem sempre é na verdade uma afirmação: Tu é mineira, né? Respondo com meu sorriso mineiro e minha indisfarçável alegria em ser mesmo uma mineira que gosta de pão de queijo, roda de viola e galinha caipira.
Daí comecei a atinar pra esses negócios. Dia desses conversando com uma amiga e conhecendo um pouco mais do Pará e de Santarém, pude entender e observar que em algumas vezes em que tive a oportunidade de ouvi-la falar do seu lugar, fiquei mesmo extasiada de ver seus olhos brilhando, um sorriso escancarado e uma alegria incontida de dizer da sua terra. E não é qualquer terra, é Terra com letra maiúscula mesmo, mostrando a grandeza que significa para cada um de nós o lugar de onde viemos. Talvez cada um ao seu modo tenha um jeito de mostrar ao mundo o orgulho, no melhor sentido possível, que temos de nossas raízes. Não quero com isto ser bairrista ou determinar barreiras geográficas nem lingüísticas entre pessoas. Mas acredito verdadeiramente que os lugares nos fazem e determinam um pouco de nosso jeito de ser.
Mas como estou aqui em Brasília, trabalhando dentro de uma centralizadora de tecnologia e por aqui encontro gente de todos os cantos, não posso deixar de dizer que entre os muitos computadores e todas as linguagens tecnológicas que nos rodeiam, muitas outras linguagens também nos cercam... E talvez seja a mistura de todas essas linguagens e sotaques num mesmo lugar que tenha me feito parar um pouco e tentado descrever a beleza que cada pessoa traz em si na diferença da língua que fala.
Do “Bah Tchê!” dos gaúchos alegres que tomam chimarrão todos os dias ao “e” aberto dos cearenses de sorriso bonito e alma boa. Do “r” puxado dos paulistas ou paulistanos mais reservados e muito inteligentes ao “baianês” sossegado e cantado que todo bom baiano consegue falar. E o que dizer do “S” em finais de palavras que faz com cariocas sejam sempre reconhecidos? E juntando todos esses “falares” fico também encantada com o jeito do brasiliense de dizer um “tu” que até hoje não sei se é de influência nordestina ou gaúcha.
Mais importante, no entanto, que tudo isso, é saber que a linguagem, esteja ela em que patamar estiver na vida do ser humano, é o que nos faz criar laços. Todos os laços. Os de amizade, de amor, os profissionais e tantos os outros que possamos viver.
E do alto da minha imensa gratidão por ser mineira digo a todos que é bonito demais ter orgulho de onde se vem.
Cês num acham,uai?